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O Movimento dos Cineclubes: O primeiro cine-clube?

O Movimento dos Cineclubes: O primeiro cine-clube?.

Aparentemente, e ao contrário do que se pensa, o termo cine-clube não terá sido criado por Louis Delluc, em 1920, mas sim, em 1907, por Edmond Benoît-Levy, director da revista Phono-Ciné-Gazette, uma revista surgida em 1905 com título Phono-Gazette, mas que poucos meses depois passaria a incluir a referência ao cinema no seu título (como se pode verificar na imagem ao lado).

Seria nesta revista que, a 14 de Abril de 1907, Benoît-Levy anunciaria a criação do primeiro «ciné-club».

Este novo «clube»[1], teria sede no cinema Omnia, a primeira grande sala sedentária de cinema de Paris, inaugurada a 14 de Dezembro de 1906, no Boulevard Montmartre, número 5[2].

Sala Omnia-PathéPara além das projecções nesta sala (ver imagem ao lado, com data de Outubro de 1907), o clube proposto por Benoît-Levy oferecia aos seus sócios um local de reunião, uma biblioteca, um boletim oficial do cine-clube, e propunha-se, muito particularmente, «travailler au développement et au progrès du cinématographe à tous les points de vue», proibindo-se, no entanto, todo o tipo de discussão política ou religiosa[3].

Aparentemente, apesar do dinamismo de Benoît-Levy, um propagador infatigável dos valores republicanos e laicos, do cinema e do conhecimento científico[4], nenhuma das propostas relativas a este primeiro cine-clube se concretizariam, dando antes os seus esforços lugar à criação de uma associação corporativa, em Fevereiro de 1911, com o nome de Association française du Cinématographe[5].
Seria preciso esperar por 1920, para que o termo voltasse a surgir na imprensa da especialidade, com a publicação, a 14 de Janeiro de 1920, por Louis Delluc, Charles de Vesme, Georges Denola e a colaboração de Léon Moussinac, de Le Journal du ciné-club. Voltaremos a esta revista e aos seus fundadores num próximo post.


[1] Laurent Mannoni, «Ciné-Clubs et Clubs», Virmaux, Alain et Odette (dir.), Dictionnaire du cinéma mondial, Paris, Editions du Rocher, 1994, pp. 170-175.
[2] A sala, de que Benoît-Levy era proprietário, fora concebida como uma luxuosa e confortável sala de teatro, para atrair um público que se desejava burguês, numa altura em que, como vimos, o cinema era maioritariamente um espectáculo de feira, e tornar-se-ia no protótipo da rede de salas Omnia, uma filial da companhia Pathé, acabando mesmo por se tornar na sede da Sociedade Omnia-Pathé.
[3] Laurent Mannoni, «Ciné-Clubs et Clubs», Virmaux, Alain et Odette (dir.), Dictionnaire du cinéma mondial, Paris, Editions du Rocher, 1994, p. 170.
[4] Veja-se a quantidade incrível de iniciativas relacionadas com o cinema, e não só, a que Edmond Benoît-Levy esteve ligado ao longo da sua vida, na biografia elaborada por Valérie Vignaux e disponível no site da associação Les Indépendants du 1er Siècle. Cf. Les Indépendants du 1er Siècle. [em linha] s.d. [Consultado a 24 de Janeiro de 2006]. Disponível em http://www.lips.org/bio_benoitlevy.asp.
[5] Cf. Christophe Gauthier, La passion du cinéma: cinephiles, cine-clubs et salles specialisées a Paris, Paris, École des Chartes, 1999, p. 25.

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